Peido Molhado- Matheus Freitas
Sempre tive total controle sobre meu corpo. Quando estou com uma dorzinha em algum lugar, sei exatamente como devo tratar. Se é algo novo, procuro o médico na qual consulto há anos. Ele tem conhecimento de todo o meu histórico e sabe, também, que não vou até lá só por causa de uma dor de barriga. Afinal, se estou com dor de barriga, tomo chá de carqueja.
Da mesma forma como conheço meu corpo, também conheço os gases fluidos do meu organismo. Quando sinto uma movimentação estomacal, sei são gases ou não.
E quando são gases, sei exatamente qual tipo vai vim. Eu sou como um craque do futebol. Sabe aquele jogador que sempre que pega a bola e você não sabe qual jogada vai sair dos pés dele? Vai driblar para a esquerda, para a direita, cruzar, passar ou voltar o lance e recomeçar o jogo?
O adversário até tem um conhecimento sobre esse craque habilidoso, mas ele é sempre uma caixinha de surpresas. E eu também. Mas ao invés de ser um craque da bola, sou um craque dos peidos.
Nunca estou limitado a um único tipo de peido. Sei quando virá uma bomba, aquele peido alto e fedorento, que fede a podre mesmo. Sei quando é um gasoso, o famoso “peido letal”, ninguém ouve, só sente. É tão podre quanto à bomba.
Também sei quando é uma bomba falsa, aquele peido alto, mas que nem vai feder. Esse eu solto e já tranquilizo a galera. O peido plock, que é aquele que só faz um “plock” e se você estiver por perto, mas não estiver concentrado em mim, nem vai ouvi-lo. É ótimo para soltar em ambientes públicos. Além de fazer pouquíssimo barulho, dificilmente fede.
E há o peido molhado. O mais traiçoeiro de todos. Evito, sob todas as circunstâncias, soltá-lo na rua. Na verdade, deveria se chamar peido surpresa, porque nunca se sabe se ele virá premiado ou não.
Gosto de soltar no conforto da minha casa. Se por ventura a freada na cueca vir junto, já corro para o banho.
Mas há um problema no peido molhado. E não é o fato dele, de vez em quando, deixar uma marca na cueca. E sim a força. Ele vem de um jeito que, inicialmente, parece uma bomba ou bomba falsa.
Depois, se transforma em um plock. Só quando estou dando aquela “empurrada” para ele sair, descubro que é um peido molhado. Porque conforme vai chegando à saída, ele vai aquecendo, como se fosse uma lava quente querendo sair do vulcão, sabe?
Aí você precisa adotar cautela, porque pode ser uma evacuação falsa do vulcão, apenas cinzas. Ou, em último caso, uma lava inofensiva que nem sequer vai chegar ao solo.
Mas nesse dia, em pé no ônibus lotado, meu organismo foi muito traiçoeiro. Ele se manteve como um pequenino e inocente plock até o fim. Não veio a lava quente de sobreaviso como de costume.
Quando percebi que estava fazendo força para um peido molhado, já era tarde. Tentei encolher as nádegas para segurar o excremento líquido, mas não deu tempo. O vulcão entrou em erupção violentamente e atravessou o buraco com tudo e escorreu pelas pernas. Aos poucos, o fedor começou a tomar conta do ambiente.
Conforme tentava me disfarçar, eu me mexia. E conforme me mexia, o fedor se espalhava. Tentei usar o jornal Boca Popular que eu tinha em mãos, mas não teve jeito, a marca nas calças começou a aparecer e todos perceberam que eu estava cagado.
Mesmo apertado, as pessoas se abriram para eu ficar isolado. Puxei a cordinha e desci, o motorista nem esperou chegar a uma parada, acho que sentiu o cheiro também. Nunca mais peguei aquele ônibus e, independente de qual tipo for, evito soltar peidos em público desde então.
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Aplausos são ouvidos. Mariano agradece. Em seguida, Lauri começa a falar.
- Quero agradecer ao Mariano pelo seu testemunho. E também parabenizar sua coragem em ser o primeiro a falar sobre seu incidente com gases em nosso primeiro encontro do P.A, os Peidorreiros Anônimos, grupo de encontros destinado ao compartilhamento de nossas histórias de gases e para desabafar. Por que peidar não é errado!
Mais aplausos. Lauri continua:
- Quem quer ser o próximo?
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