Chacina Natalina em Palmeira dos Índios- Wender Lucas Fernandes
E mais uma noite de véspera de natal se inicia na infernal e decadente cidade de Palmeira dos Índios. Árvores luminosas decorando a cidade, polícia enquadrando jovens inocentes nas ruas, missa na igreja principal e os jacarés do antigo açude do Goiti, atual esgoto a céu aberto do centro, saindo para caçar a sua ceia natalina. Tudo caminhando normalmente enquanto na praça da Catedral, velhas beatas fazem rituais cristãos para celebrar o nascimento do Nazareno Bastardo. Lá no canto, observando, está o jovem Pedro Lopes Rodrigues, satanista acusado de assassinato e idealizador da chacina da mata da cafurna, onde foi o responsável pela morte de 5 padres e 8 coroinhas, que participavam de uma suruba celestial no meio do mato, para comemorar a festa de nossa senhora do amparo, padroeira da cidade.
Fumando seu cigarro e acompanhando a ladainha das velhas, Pedro vai até o bar da esquina e pede uma cerveja para lavar a alma.
- Porra! Essas velhas não param de gritar essas músicas de merda.
- Mas é natal, temos que respeitar! – Responde Antenor, proprietário do bar da esquina e matador de aluguel aos finais de semana.
- Se eu pudesse eu matava essa corja toda! – Continua Pedro.
- Isso é uma proposta? – Pergunta Antenor, interessado no assunto.
Pedro olha para Antenor com nojo e em seguida sai do bar, caminhando pela cidade. Pedro vai andando até chegar a praça das Casuarinas, onde encontra os jovens drogados afogando suas juventudes nos prazeres da vida, lá ele se depara com um grande numero de pessoas se entorpecendo de todas as formas possíveis e decide ficar, pois não havia nenhum adorador de deu$. Mais na frente, Pedro encontra um traficante conhecido e logo vai lá adquirir seu entorpecente.
- Me vê um pino de 10$ aí!
- Só tenho de 20$, mano. Mas pode levar que essa é da boa! – Diz o traficante.
- Me passa essa porra, aí!
Pedro divide o pino inteiro em duas carreiras e bota tudo pra dentro, uma em cada narina, fazendo a mente ficar totalmente acelerada e com disposição para acabar com o natal de toda a cidade. Em seguida, Pedro anda pela praça inteira, fuma vários cigarros enquanto pensa no que fazer para aproveitar a sua energia. no caminho encontra alguns conhecidos, cheira mais algumas carreiras e se sente pronto para fazer o que quiser.
“Tá na hora da festa!”- Pensa Pedro.
Reza a lenda que havia uma enorme estátua da santa padroeira do município, no alto da serra do Goiti – Serra mais alta da cidade – e que por causa de um ritual realizado ao seu lado, a estátua ganhou vida e destruiu toda a cidade, deixando apenas as almas enterradas no
cemitério São Gonçalo, que abrigava todos os mortos daquela época, inspirado por essa historia, Pedro vai até a praça da Catedral e decide acabar com as velhas beatas que estavam por lá.
Pedro chega no bar do Antenor e se depara com bêbados caídos no esgoto da frente, enquanto a ladainha das velhas continua.
- Me vê aí uma dose dupla de cachaça, um limão e uma faca de mesa! – Diz Pedro para Antenor.
Antenor logo chega com o pedido e coloca em cima do balcão. Pedro corta o limão, espreme metade no copo e toma toda a cachaça sem fazer cara feia, em seguida sai com a faca em direção a praça.
- Vai levar a faca? – Pergunta Antenor!
- É só por um instante!
Pedro vai primeiro em Dona Amparo, devota fiel da padroeira e regente de toda a ladainha. Usando a faca de mesa abre sua garganta em um só corte, de um lado a outro, até o sangue escorrer por sua blusa com a imagem de jesus estampada, um tumulto se inicia e Pedro sai sedento para iniciar mais uma chacina. Segura Dona Laura pela perna e abre sua barriga deixando a mostra suas tripas e os petiscos que ela comeu antes de sair de casa, pra não ficar com fome até a hora da ceia, depois ele segura Dona Maria e escalpela colocando seus cabelos numa estátua de gesso presente em um altar.
Com a demora para cometer os assassinatos, já que a faca não era feita pra isso, Pedro sai pela cidade a procura das velhas que correram do local e corta a garganta de cada uma que encontra, enquanto elas imploram para que deus e seu filho bastardo a salvem. A noite continua e Pedro sai matando cada velha beata que encontra na rua, mantendo seu nome e deixando marcada mais uma historia na pequena e decadente cidade.
Enfim, chega a meia noite e o natal oficialmente se inicia com corpos mutilados, gargantas cortadas e estátuas de santos sujas de sangue por todo o centro da cidade. Policia nunca existiu por lá, assim como em qualquer outro lugar do país, e com isso, Pedro vai pra casa curtir seu fim de brisa, tomando sua velha cerveja puro malte e ouvindo aquele antigo disco do Deep Purple.
Lá fora, Antenor sai desesperado procurando sua mãe que participava das festividades de natal. Portando seu 38, vai até a casa de Pedro e o pergunta se ele havia visto.
- Devo tê-la matado também! – Responde sem remorso.
- Pelo menos agora tenho uma herança. – Diz Antenor. – Mas não posso deixar de graça.
Antenor aponta para a cara de Pedro Lopes Rodrigues e descarrega todas as balas de seu revolver, Pedro quase tomado pelo espirito de Tony Montana do Scarface, tenta esfaquea- lo ainda baleado, porém sem chance. Pedro cai nos pés de Antenor, enquanto lá dentro toca Smoke on the Water, para o deleite natalino.
Antenor volta para seu bar e vive na calada até hoje com a herança de sua mãe, enquanto Pedro foi para o céu, pois matou as velhas que estavam fazendo os rituais de forma errada e desagradando deu$. Dizem as más línguas que lá em cima ele vive ouvindo Smoke on the Water e curtindo com a sua cerveja puro malte.
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