Mundo Gato - Matheus Freitas
Primeira parte: O Causo
“Então, cara, tudo começou naquela tarde de domingo. Eu estava indo conhecer os amigos da Ayla. Ela tinha me falado a semana inteira sobre eles. ‘Meus amigos são incríveis, você vai adorar. Eles amam animais. Inclusive, o cachorro do Thiago vai estar de aniversário e eles estarão comemorando.’ Estava realmente animado em conhecer a galera”.
Ricardo tinha cerca de 50 anos. Seus cabelos iam até a altura dos ombros, usava um colete e uma corrente com o símbolo da paz e uma calça vermelha. Seu estilo, de longe, não deixava dúvidas de que pertencia ao movimento hippie.
Mas sua identificação com os hippies ia muito além da aparência. O que realmente o identificava como membro deste movimento cultural era o jeito de ser, conversar e o modo como tratava as pessoas ao seu redor. Ricardo ama e respeita todas as vidas do planeta.
Por esta razão, ao conhecer Ayla, uma jovem entre 20 e 25 anos, Ricardo sabia que tinha encontrado o amor de sua vida. Ela, assim como ele, também ama a vida. Sobretudo, os animais.
Depois de dois meses de namoro, Ricardo estava pronto para conhecer os melhores amigos de Ayla: Thiago, Luiza, Mari e Douglas. Assim como sua amada, todos eles também amam animais e as formas de vida deste planeta.
O encontro não poderia ser mais oportuno: Thiago estava comemorando o aniversário de seu cachorro no Parque da Redenção, em Porto Alegre. Ricardo estava muito entusiasmado em conhecer os amigos de Ayla.
Ricardo e Ayla se juntaram aos demais e, depois das apresentações básicas, já estavam sentados no chão junto ao pessoal, desfrutando do piquenique armado por Thiago e comemorando o aniversário do cachorro Bartolomeu.
– E aí Ricardo, o que tu faz da vida? – perguntou Thiago.
– Bah, já fiz de tudo um pouco, mas nunca curti muito emprego formal, sabe? Já fui músico.
“Eu e um brother tínhamos um grupo que cantava reggae, mas paramos há alguns anos. A última vez que nos reunimos foi em 2013, em um show que marcava o retorno da Dino Rockssauro.”
“Depois da música, passei a viver da minha arte e tudo mais. Consegui expor em vários países e juntei uma grana. Agora voltei pra música. Faço parte de um projeto para crianças carentes.”
– Que legal, Ricardo! Eu também toco e estou sempre atrás desses projetos, se tu quiser me convidar para ir lá um dia, super agradeço – disse Douglas.
– Claro, vamos combinar sim. Aqueles moleques adoram músicas e tens uns bom pra caralho lá!
– E como vocês se conheceram? – quis saber Luiza.
– Ah, eu e o pessoal da orquestra fomos convidados a tocar em uma apresentação lá nesse projeto – começou Ayla – Quando fomos apresentados e disseram que o Ricardo era o criador deste programa de música para às crianças, fiquei encantada por ele. Começamos a conversar nesse mesmo dia e saímos para tomar uma cerveja. Depois não paramos mais de nos ver!
Ayla e Ricardo trocavam olhares, carinhos e concluíam as frases um do outro. Pareciam que estavam juntos há anos. O “entrosamento” de Ricardo com os amigos de Ayla também foi rápido. A diferença de idade entre eles (os amigos da moça tinha a mesma faixa etária que ela) passava despercebida. Era como se Ricardo tivesse crescido junto com todos.
As horas foram passando. Os sanduíches que Thiago levou para comemorar o aniversário de Bartolomeu tinham terminado. O refrigerante e as águas também chegaram ao fim. O sol estava se pondo. O cachorro já estava cansado de tanto brincar no parque.
– Pessoal, que tal continuarmos as comemorações na minha casa? Podemos tomar uma cerveja e tudo mais, que tal? – convidou Thiago.
Mari, Douglas e Luiza aceitaram de imediato. Porém, Ayla queria saber se Ricardo concordava:
– O que tu acha? Quer ir lá? Se quiser não precisa, porque te convidei para vir aqui e tal.
– Não, tá tudo certo. Gostei dos teus amigos, vamos sim!
Depois de aceitarem o convite, Ricardo e Ayla, juntamente com os outros, foram até a casa de Thiago. A casa ficava um pouco afastada do centro da cidade, em um bairro sem muito movimento. Thiago e Bartolomeu, os anfitriões, entraram no local. Em seguida, os demais também adentraram.
A casa de Thiago era espaçosa. Ao entrar, Ricardo atravessou um pequeno corredor e alguns passos depois encontrava-se na Sala da TV. Havia um segundo corredor que continuava a casa e uma escada que levava ao segundo andar. Ao lado desta escada tinha uma porta que dava acesso a outro cômodo.
Segundo Thiago, este local era a “Sala de Comemorações”. E era ali que as festividades do aniversário de Bartolomeu iriam continuar. Mas antes, precisava ser organizado. Thiago pediu ajuda a seus amigos.
Ayla e Ricardo estavam prontos para ajudá-lo, no entanto, foram impedidos pelo anfitrião:
– Vocês não! O Ricardo é nossa visita especial hoje. Então, Ayla, faz companhia pra ele enquanto nós preparamos tudo!
– Mas eu posso ajudar, sem problemas! – retrucou Ayla.
– Minha casa, minhas regras! – disse Thiago entre risos.
Ayla e Ricardo também deram algumas risadas e concordaram com a “ordem”. Os dois ficaram a sós na sala enquanto aguardavam o outro local ser limpo.
– O Thiago é uma ótima pessoa, mas às vezes é muito chato. E eu nunca vi ele tão “simpático”. Normalmente ele pede pra gente ajudar em tudo. Acho que tu ganhou o coração dele! – riu Ayla, colocando a mão sob o coração de Ricardo.
– Que bom! Espero ter passado uma boa primeira impressão. Gostei deles. Tem uma vibe legal.
– Sim, eles tem uma energia positiva que te traz paz. Adoro estar com eles. E ficar junto com eles e contigo, é melhor ainda. O teu espírito de luz me deixa mais leve. Então tudo se harmoniza!
– Tu tens razão. Me sinto mais espiritualizado aqui contigo e com eles…
Ricardo para de falar por alguns segundos. Ouve alguma coisa. Observa ao redor. Eles estão sozinhos. Então pergunta:
– Tem mais algum cachorro aqui?
– Não, somente o Bartolomeu.
– Pensei ter ouvido outros latidos.
– Pode ser da rua, sei lá. Mas aqui só tem o Bartolomeu.
Ricardo não conseguiu continuar o questionamento porque logo em seguida Thiago voltou a aparecer dizendo que tudo estava pronto. O casal ficou em pé e foi atrás do anfitrião até a sala onde as comemorações continuariam. Thiago é o primeiro a cruzar a porta. Ele entre e a fecha.
Em seguida, Ayla, que está um pouco à frente de seu namorado, entra e deixa a porta entreaberta. Ricardo não enxerga o que há lá dentro. Ele só consegue, de fato, avistar o interior da sala ao cruzar a porta.
Tão logo adentra o local, Ayla fecha a porta, como se estivesse trancando-o lá dentro. Ricardo está em pé, imóvel e horrorizado com o que está acontecendo ali. Ele tenta digerir e raciocinar direito o que está acontecendo no local. Que tipo de “comemoração” era aquela?
– Puta que pariu! Que merda é essa?
– Relaxa Ricardo, ainda são as mesmas pessoas de antes. Logo, logo você vai entender.
– O que tá acontecendo aqui? Alguém me explica?
– Calma, Ricardo. Silêncio que vai começar.
– Vai começar o quê?
– Shhhh!
Ricardo continua incrédulo e sem entender o que está acontecendo. Thiago, Mari, Douglas e Luiza estão encapuzados. A sala, que era para comemorar o aniversário de Bartolomeu, na verdade não tinha sinal nenhum de comemoração. Ali no meio, o principal motivo que estava deixando Ricardo em estado de choque: uma mesa redonda de madeira com Bartolomeu amarrado.
– Pessoal! Hoje comemoramos o aniversário de Bartolomeu! Ele estava feliz. E isso é bom! Quanto mais feliz o cachorro está, mais alegre estamos com esse momento!
Ricardo estava suando frio. Coração agitado. Ele queria fazer algo, mas parecia que alguma coisa o prendia no chão, deixando-o incapaz de se mover. Começou a observar ao seu redor e confirmou que estava certo sobre uma coisa: os latidos não eram da rua. Outros três cachorros estavam presos em pequenas gaiolas.
Thiago continuou seu discurso:
– Hoje, a honraria de iniciar os trabalhos é da Mari!
Mari recebe, das mãos de Thiago, uma pequena machadinha. Ela envolve seus dedos lentamente no cabo daquele objeto cortante e abre um enorme sorriso ao ter o controle do machado. Sente o cheiro dele como se aquilo fosse uma deliciosa fragrância. E em uma piscada de olhos e com um único golpe parte Bartolomeu ao meio. O sangue jorra pela mesa e nas paredes do local.
Todos, inclusive Ayla, comemoram o feito. Em seguida, Thiago retira o corpo do cachorro de cima da mesa e o joga no chão, como se fosse nada. Apenas algumas horas atrás Bartolomeu estava alegre e correndo pelo parque.
Ricardo parecia estar ainda mais “enterrado” no chão. Era como se o seu corpo estivesse levando pequenas cargas de choque de seus nervos, desencadeando uma reação em cadeia cujo resultado era uma enorme descarga elétrica em seu sistema nervoso. Resultado: ele estava congelado assistindo a toda àquela calamidade.
– Ricardo, fique calmo. Achei que hoje seria o momento certo pra te contar!
Alguns segundos se passaram até Ricardo voltar a si e observar que Ayla estava falando com ele.
– Me contar o quê?
– Nós amamos os animais, mas não os cachorros e sim os gatos. Somos seguidores de um grupo que venera os gatos na internet, mas decidimos ir além e criar a nossa seita
para acabar com os cachorros. Eles roubam o lugar dos gatos. Os felinos são os verdadeiros reis da internet! A nossa missão é apenas chamar a atenção e dizer que os gatos são melhores que os cachorros!
– Ayla, vocês têm merda na cabeça! Era só fazer um protesto, levantar uns cartazes, mas isso é atrocidade demais! Eu não posso assistir isso, vou embora!
Ricardo tenta sair, mas Douglas tranca a porta e ele é obrigado a ficar. Em meio ao desespero, ele descobre que as atrocidades continuam. Thiago pega outro dos cachorros, o coloca na mesa redonda e entrega a machadinha para Luiza. Com um corte seco e preciso, ela arranca a cabeça do animal. Mais comemorações entre eles.
Ele leva as mãos à cabeça. Tenta tapar os ouvidos para deixar de ouvi-los na tentativa de que isso pudesse amenizar o que estava presenciando ou fazê-lo acordar e perceber que era apenas um pesadelo. Mas, infelizmente, aquilo era real. E ele não iria conseguir acordar.
Antes de pegar outro cachorro, Thiago emitiu um comunicado a todos:
– Amanhã à noite é o grande dia! Invadiremos a nova pet shop e mataremos todos filhotinhos de cachorros! Quando inaugurarem, terão uma bela de uma surpresa!
Todos aplaudem. Mari pega outro cachorro e o coloca na mesa. Desta vez, Thiago entrega a machadinha para Ayla. O desespero de Ricardo começou a aumentar. A sua amada estava prestes a cometer uma monstruosidade.
– Não faz isso, Ayla!
De nada adiantou o grito desesperado de Ricardo. Ayla pegou a machadinha e cortou uma das patas do cachorro apenas para fazê-lo sofrer. O animal começou a chorar e agoniar de dor. A jovem começou a rir com aquele desespero. Em seguida, cortou as outras três patas e, por fim, o rabo.
O cachorro continuava vivo, mas estava prestes a morrer. Mas Ayla queria provocar mais sofrimento. Ela jogou a machadinha no chão, puxou um canivete de seu bolso e começou a perfurar a barriga do animal, várias e várias vezes.
A cada perfurada, eles comemoravam como se fossem uma torcida enlouquecida com seu time. A euforia em torno da perversidade do ato cometido por Ayla era tanta, que Douglas, assim como todos, ficou distraído. Ricardo aproveitou a oportunidade para fugir.
Somente depois de alguns minutos, Ayla percebeu que Ricardo havia ido embora.
– Ele vai estragar tudo, Ayla. Eu disse que não era uma boa ideia contarmos – contestou Thiago.
– Não. Ele não vai fazer nada para nos atrapalhar. A polícia não acreditará no que ele disser e o Ricardo também é contra a violência. Ele não tem uma boa fama entre as pets devido aos protestos que já fez contra elas, então qualquer denúncia que Ricardo fizer,
eles também não vão acreditar. Pode ficar tranquilo. E apesar de tudo, eu sei que ele me ama e não vai querer me prejudicar.
Ricardo nem percebeu, mas quando se deu conta, já estava em frente ao prédio que morava. Em meio ao desespero, havia percorrido o longo trajeto até sua casa caminhando e correndo. Mas a única coisa que pensava enquanto percorria as ruas era “como ela pôde fazer isso? Por quê?!”.
Segunda parte: A Atitude
“Então, foi isso que aconteceu! Nunca imaginei que algo assim pudesse existir. Jamais passou pela minha cabeça que Ayla fosse uma assassina de cachorros.”
Na tarde seguinte, Ricardo contava, no telefone, todo o ocorrido a um grande amigo.
– Sinistro, Ricardo! E o que tu vai fazer? – responde a pessoa do outro lado da linha.
– Não tenho muito que fazer, apenas pedir para a Mãe Natureza abençoar Ayla e tentar impedi-la de cometer esta atrocidade.
– Cara, a Mãe Natureza não vai fazer porra nenhuma. Tu tem que agir e tentar acabar com isso!
– Não sei o que eu posso fazer…
– Tu precisa confrontá-la, ter uma atitude!
– Tu tá certo! Preciso tomar uma atitude!
Horas mais tarde, Ayla, Mari, Douglas e Luiza estavam saindo, juntamente com Thiago, da casa dele. A residência era o “local oficial de encontros” da tal seita assassina de cachorros. Já era noite. A rua estava vazia. Todos estavam completamente animados com o feito que estavam prestes a realizar.
No entanto, ao iniciarem a caminhada pela rua, de longe avistaram uma pessoa parada. O indivíduo usava um pano nos olhos, que servia como uma máscara para, possivelmente, esconder sua identidade; uma toalha de banho amarrada ao pescoço; calça jeans e tênis. O cidadão segurava um escudo na mão esquerda. Na verdade, era uma tampa de panela que servia como escudo. Na mão direita, um facão. Ainda era possível perceber seus cabelos compridos. A única diferença com um certo alguém é que a cabeleira estava amarrada.
– O que tu tá fazendo aí, Ricardo? Tu não precisa desta roupa para participar do grande dia – questionou Ayla.
– Eu não vim participar…quer dizer, eu não sou o Ricardo. Sou apenas alguém que vim impedir vocês!
– Ricardo, só tu, além de nós, sabia do plano. Já vi essa toalha na tua casa e estou reconhecendo tua voz.
– Merda! – disse Ricardo, ao perceber que seu “disfarce” não havia dado certo – Mas, de qualquer forma, vim impedir vocês. Então é melhor desistirem.
Ricardo arranca a máscara de seu rosto e a joga no chão. Os outros apetrechos continuam em no corpo. Ayla se posiciona a frente dos demais. Ela e Ricardo ficam frente a frente, mas estão alguns metros afastados. Seu objetivo é fazê-lo mudar de ideia.
– Ricardo, por favor, se você não quer participar, então saia do nosso caminho. Nada que você disser vai nos impedir. Estamos planejando isso há meses, não vai ser você com seu discurso de paz e amor que nos impedirá.
– Não vim só discursar. Agirei com violência se for necessário!
– Tu não mata nenhuma mosca porque elas têm um propósito e você não pode impedir, vai atacar a gente? Por favor, né.
– A mosca tem seu propósito. E eu tenho o meu: impedir vocês! Ninguém passará por mim hoje! Nenhum cachorro morrerá!
– Ah, vai toma no cu! Eu estou com pressa! – disse Douglas.
Após exacerbar sua indignação com Ricardo, Douglas corre na direção dele. Passa rapidamente por Ayla. Sem pensar duas vezes, Ricardo joga seu facão em direção ao seu inimigo. A faca o atinge bem na testa e ele cai no chão.
– Aaaaah! O que tu fez?! – tentou compreender Ayla.
A jovem e os seus amigos ficam incrédulos com o ataque de Ricardo.
– Fiz o meu trabalho – disse Ricardo.
Thiago também se indigna e convoca os outros:
– Puta que pariu! Vamos acabar com ele! Atacar!
Thiago, Mari e Luiza correm em direção a Ricardo. Ayla permanece no mesmo lugar. Ricardo vai rapidamente até o corpo de Douglas, retira a faca da cabeça dele e corre de encontro aos três.
Thiago está mais à frente dos demais e é o primeiro a atacar. Ricardo esquiva-se de seu soco, dá um rápido giro e se posiciona atrás dele e corta suas costas. Em seguida, fica frente a frente Mari, se agacha e faz um profundo corte em sua barriga. As tripas da jovem começam a sair e cair no meio da rua. Ricardo, apesar da idade, se mostrava uma pessoa extremamente habilidosa.
Ele levanta-se rapidamente, porque ainda há um inimigo a ser derrubado. Com sua faca, ele degola Luiza. O sangue de seu pescoço começa a jorrar. Ricardo respira fundo, tudo acabou.
Porém, mesmo ferido, Thiago segura Ricardo por trás e tenta tirar seu facão. Os dois batalharam pela faca o quanto puderam, mas ela acabou saltando longe. Ricardo, sem sua arma, se viu obrigado a pensar, rapidamente, em uma nova estratégia para sair daquela situação.
Ele, então, consegue derrubar Thiago sobre o corpo de Mari, mas também acaba caindo em cima do cadáver. Ao cair, golpeia Thiago no rosto algumas vezes. Em seguida, segura a cabeça dele e a coloca, literalmente, dentro da barriga de Mari. Ricardo segura firme até Thiago morrer afogado e sufocado.
Após a morte de todos os membros, Ricardo fica em pé, pega seu facão e, completamente sujo de sangue, volta a encarar Ayla.
– Acabou! Você está sozinha. Por favor, desista e venha comigo. Eu posso te ajudar!
– Não! Eu ainda continuarei o plano. Tu tem o teu propósito e eu o meu. Vou matar aqueles filhotes de cachorros! Então, saia da minha frente!
– Todos teus amigos já morreram, como tu vai continuar sozinha?!
– Estudamos o plano há meses, posso fazer tudo sozinha. Estou triste por eles, mas tenho certeza que era isso que iriam querer. E eu vou continuar.
– Isso é loucura! Por favor, me dê uma chance de te convencer que tu está errada!
Ayla respira fundo. Começa a chorar e, em passos lentos, se aproxima de Ricardo. A jovem olha seus amigos mortos no chão, abraça Ricardo e chora mais forte.
– Talvez você esteja certo, acho que acabou mesmo.
– Calma, está tudo bem. Vamos consertar isso. Você foi iludida por eles.
– Me desculpa!
– Pelo quê?
Ayla acerta uma joelhada nos testículos dele, o deixa caído no chão e corre o mais rápido possível. Mesmo com fortes dores em suas partes íntimas, Ricardo só tinha uma certeza:
– Nenhum cachorro morrerá hoje!
Ele se levanta o mais rápido possível, pega seu facão e arremessa em direção a Ayla. A faca atinge em cheio as costas da moça e atravessa seu corpo. Ao ver o que acertou o alvo, Ricardo corre em direção da novem para consolá-la.
– Ayla! Me desculpa! Não queria fazer isso, mas são apenas animais, não posso deixar ninguém fazer nada com eles!
– Tá tudo bem! Você cumpriu seu propósito! Tu é um cara determinado, continue assim.
Sentado no chão, Ricardo coloca Ayla em seu colo. A moça começa a cuspir sangue, indicando que o fim de sua vida está próximo.
Ricardo, um ser de extrema compaixão que, naquele momento, estava apenas usando medidas drásticas para salvar animais, se sensibiliza e decide fazer uma boa ação:
– Não quero te ver sofrer. Vou acabar logo com isso!
– Tudo bem. Te amo, Ricardo!
– Te amo!
Ele retira o facão do corpo dela e dá mais uma facada na jovem. Em seguida, deita Ayla na rua e começa a chorar. Passa a mão em seus cabelos e tenta entender o que a levou a fazer essas escolhas. Apesar de ver sua amada morta, Ricardo sente uma calmaria dentro de si e ao redor. No fundo, sabe que sua escolha foi a certa.
O silêncio é interrompido com a volta de Ayla. A jovem continua viva.
– Oh diaba, ainda tá viva! Mas não se preocupa porque vou acabar logo com o teu sofrimento!
Ricardo efetua uma sequência de facadas até Ayla estar completamente morta. Ainda distante, ele começa a ouvir a sirene da polícia se aproximando. Provavelmente alguém deve ter feito uma denúncia.
– Não vou fugir, permanecerei aqui e tudo vai ficar bem. Contarei a polícia o terrível plano deles e poderei dormir com a consciência tranquila de que fiz o meu trabalho e impedi uma tragédia.
Terceira parte: Merdas acontecem
“Na última madrugada, um crime bárbaro chocou várias pessoas em uma rua tranquila de Porto Alegre. Segundo relato da polícia, o assassino, identificado como Ricardo Silva, disse que estava impedindo um grupo de assassinar dezenas de filhotes de cachorros. Ricardo alega que o grupo, na verdade, era uma seita adoradora de gatos e que matava cachorros.”
Ao ler a notícia, o amigo de Ricardo fecha o jornal. Coloca a mão em sua cabeça e fala para si mesmo:
– Cacete! Não foi isso que eu quis dizer! Eu só queria que ele chamasse a polícia. É…merdas acontecem!
Fim.
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