Prisão dos Demônios- William Fontana

 

 

 

 


 

 

 

 

Era natal, a confraternização sintonizada corações e mentes familiares naquele

encontro noturno onde eram rememorados os casos e causos familiares entre pais e filhos, tios e sobrinhos, avós e tia-avós. Todos sorriam cordialmente entre conversas e piadas até a hora de trocarem presentes e cearem de modo fraternal após se abraçarem e cantarem hinos.

O amor era recíproco e a troca de carinhos introjetados pelo presentear asseverando a felicidade daquela família numa sociedade onde não mais existia segredos, mentiras, traições, males da loucura e criminalidade, pois o amor havia curado todas as feridas humanas. Após longas conversas descontraídas e despretensiosas madrugada a dentro a família fora dormir até que as 3 horas da madrugada gritos irromperam no quarteirão entre gargalhadas soturnas de escárnio e sadismo. Quando vizinhos foram até a casa dezenas de minutos mais tarde o que encontraram era abjeto ao lhes proporcionar ojeriza, corpos mutilados e empalados, mulheres penetradas com cabos de vassouras, cabeças decapitadas e órgãos sexuais sobre a mesa como se fosse uma versão bestial e do inferno da última ceia de Cristo.

Há mil anos atrás uma descoberta física debulhou segredos tenebrosos do exterior capaz de influir e empurrar a mente humana ao seu lado mais funesto e tenebroso. Seres de um novo tipo de matéria condensada em densidades que alternavam a realidade que sendo análoga aos efeitos quânticos tinha poder de influir na randômica. Era o que todas as religiões monoteístas denominavam por demônios por serem capazes de influir direta ou indiretamente na mente humana e na matéria, onde através do caos empurrava a randômica aos limites da incongruência e absurdo e nos seres humanos insuflava o ódio, medo, mentiras, ganancia e luxúria criminosamente fetichistas das mais doentias possíveis, era em suma a manifestação que corretamente antigos denominavam de antilogia. Basicamente era a personificação e causa de muitas doenças mentais e físicas a provocar todo tipo de aberração absurda de crueldade na ausência de qualquer justificativa.

O que seguiu naquela época fora decisivo para deter aqueles seres que desde o princípio dos tempos atormentava toda a humanidade na espera de ocupa-la em seus corpos e passarem a dominar o mundo ao advirem de uma dimensão do qual sua vitalidade era alimentada por energias negativas da dor, ódio e medo supremos, a terra de aflições purgativas a qual muitos denominavam o inferno.

Todavia, haviam sucursais terrestres que como embaixadas do inferno atuavam através de homens corruptos de entendimento. Estes estabeleciam comunhão de pacto com aqueles seres em troca de promover seu reino infernal sobre a Terra, auxiliando a guiar a humanidade a todo tipo de corrupção e perversão sádica pelo ódio e medo nom-sense. Toda sorte de crimes e perversões eram promovidas, de pedofilia, zoofilia, necrofilia a estupros coletivos. Porém, quando tal ciência assim mensurou esses seres que enganavam a humanidade tais sucursais do ódio que os evocavam em cada ritual e deliberação de males foram impedidos e uma tecnologia selou o destino dos seres funestos que como parasitas espirituais se alimentavam em drenar a vitalidade humana até possuir nossos corpos ao reproduzir toda sua crueldade moralmente senil a preparar o mundo para eles, ao torna-lo num abismo de loucura e crueldade.

Porém, a humanidade triunfou e detiveram eles em prisões seladas com campos de energias na frequência de seus corpos quânticos ainda que estes diziam haver uma possibilidade que em eco dominavam eles, como numa outra dimensão. Todavia após mil anos o líder deles escapou e jurava vingança destruindo tudo o quanto nos fazia humanos, da autoconsciência, responsabilidade, afeição, remorso e amor. Seu nome era Luxiel.

E aquilo sucedeu a aquela família e após os vizinhos, e dos vizinhos sucederam em cascata ao bairro, e do bairro a cidade até que da cidade todo estado havia mergulhado num frenesi insano e orgástico de estupros e estripar sem qualquer motivo coerente senão a perversidade pela perversidade.

 – Vocês tem os vídeos? – Indagou o diretor do presídio dos Inascidos.

– Sim. Pelo rastro de destruição apenas pode ser Luxiel conforme a falha na grade do campo de energia taquiónica.

O guarda pôs o vídeo onde via a mãe abraçar seu filho dizendo ama-lo e ele a ela. Ela parecia orgulhosa dos progressos dele ao ser admitido numa renomada universidade de letras após se tornar um autor elogiado pela crítica. A tia como sempre fazia perguntas clichês e divertidas sobre as namoradas enquanto o primo ria ao assistir um especial de fim de ano sobre os anos de 1980. A namorada do jovem era uma modelo que estava em viagem a negócios.

Tudo ia bem até que subitamente um ruído perturbador tomou o lugar e o comportamento deles mudaram repentinamente ao alternar falas despretensiosas para insinuações e indiretas indo até a deboches jocosos e preconceituosos e disso as ofensas em graus crescentes de hostilidade.

– Você sempre será nosso cachorrinho nascido para o abate em nome de Jesus. –

Falou a mãe ao filho antes de ir deitar.

– Vou te denunciar ao concílio universal da autoconsciência. – Ameaçou o filho ante aquilo.

Mesmo após mil anos de progresso científico e moral após a prisão dos ditos demônios a humanidade era monitorada em casos específicos por suas inclinações a erros ainda comuns mesmo que agora minoritários. A mulher ao ouvir aquilo vociferou com o filho e expelindo ódio falou espelhando toda suas atitudes misantrópicas contra ele.

– Parricida! Você quer destruir essa família! Não passa de uma titica! Excremento e lixo!

Os que estavam dormindo acordaram e logo uma confusão cresceu dentro da casa até se tornar generalizada.

A vulgaridade tomou o lugar, de primos que agora insuflados sem motivo eram tomados por um ódio visceral e inexplicável ao jurarem que iria "arregaçar" a namorada dele e qualquer mulher que o amasse, enquanto o tio dele o xingava com palavrões jocosos a fazer apologia dele como um filho de prostituta. Tudo isso até dar lugar a briga que abarcou entre outros mais quando seu irmão chamou sua própria namorada de vagabunda por gostar do jovem escritor e ao esbofeteá-la arreou as calças no meio da sala para estupra-la na frente de todos. O tio interviu, mas sendo atacado pelo pai do garoto que em seguida segurou a garota e começou a molesta-la igualmente. O namorado vendo isto investiu contra ele, mas o outro tio lhe deu um soco na cara e o amarrou. Gritos agora tomava o lugar enquanto a prima dele quebrava as estantes vociferando palavrões enfadonhos e dizia que tinha que oferecer o garoto em sacrifício para aplacar o ódio, pois o fato de ser neurodiverso era a causa de todos os males naquela casa. A namorada do irmão sofreu um estupro coletivo na mesa onde antes oravam na ceia enquanto um tio matava seu irmão a pauladas por criticas o quão frenéticos ficaram. O homem então enfiou uma faca em seu coração e o arrancou erguendo para o alto como os maias faziam enquanto uivava de raiva como um lobo de uma alcateia.

– Tudo é o nosso banheiro em nome da libertação de Luxiel! – Vociferou o homem que agora pegava um cabo de vassoura enfiava nos orifícios da jovem molestada enquanto ouvia a gargalhada dos demais em sadismo no momento em que seu primo se masturbava para as tripas expostas de seu tio morto sem coração. Ele repetia.

– A loucura do ódio e medo é a verdadeira iluminação, que o ódio entorpeça meu coração nos vícios liberadores do inferno! Antílogos usa a logia como privada, da moenda que gera apenas martírios para a própria alvorada!

O jovem que teria sido o pivô daquilo assisti o frenesi de sexo e sangue incrédulo. Pranteava encolhido num canto quanto agora todos unidos tiraram as roupas e entraram o lugar entoando um cântico tenebroso em latim num coro de terror. Pararam diante dele e então a mãe disse.

 – Oh Luxiel, a ti entregamos esse sacrifício. Meu rebento a teus favores e poderes do ódio e medo, pois a tudo pagaremos seu preço! Tudo o quanto penetra a carne a contragosto é um louvor sexual a ti! Te livraremos do amor, da fidelidade e verdade, pois pela crueldade e injustiça sereis fortalecido!

O filho fora morto e após isso uns mataram uns aos outros e o que sobreviveu se enforcou rindo da própria miséria em meio ao sangue e podridão que lhe cercava.

– Tal como previsto pelos estudos de mil anos atrás quando as religiões monoteístas não eram ainda uma ciência. – Comentou o diretor do presidio e prosseguiu. – Parece se enclavinhar como as manifestações pluriformes deles por religiões antigas. Nunca imaginei que veria isso em vida, pois conhecia apenas por registros históricos.

– Está se espalhando rápido, senhor. Há casos agora por todos estados, teve início sutil como nesse caso, primeiro insinuações e indiretas de ameaças e ofensas veladas, e em grau crescente vieram as traições sentimentais e sociais. Logo mentiras, e de mentiras crimes, agora todo tipo de ódio toma as ruas, por preconceitos que havíamos superado a meras discordâncias de opinião e pensamento.

– Mande a Força Internacional da Autoconsciência estabelecer quarentena em toda região. Levem os projetores de campos taquionicos para selar a possibilidade dessa possessão coletiva crescer e se espalhar ainda mais!

O diretor estava consternado, por muitos séculos não haviam lidado com aquela situação de modo que ele tremia de medo, coisa que nunca havia sentido em vida pois doenças como estresse, depressão e síndrome do pânico haviam sido vencidas como todo tipo de loucura. Mas assim como a aparição de figuras de anjos era comum em muitas culturas sem aparente relação, a existência ancestrais de rituais orgiásticos de drogas e sacrifícios humanos parecem confluir de modo similar. Da europa, África, Índias as Américas o uso de drogas, orgias ou mortes as divindades parecem ter em comum outra associação comum, a da loucura com a manifestação dessas divindades que a exemplo de Dionísio é um expoente Europeu como deus da loucura e orgias.

O homem se dirigiu até a fronteira da quarentena onde soldados armados com armas de efeito quântico e monitores da matéria variável daquela espécie de condensado de Einstein-bossen era vigiada para verem caso escapasse.

Todavia o diretor temoroso ante o terror que a todos acometia, notou outros soldados pálidos ante os gritos de dor e gargalhadas sádicas ecoando no vazio desértico da zona de quarentena. Com a respiração ofegante ele então sucumbiu e pegou uma arma de projétil e atirou contra um soldado e se matou. Todos gritaram ao notar que o mero ato de verem e ouvirem aquilo suas esperanças e fé se esfacelavam levando a sucumbirem ao medo e terror alimentando ainda mais aquele mal cancerígeno que agora rompeu os limites da quarentena!

Assim todos igualmente começaram a se matarem uns aos outros, e tudo se repetiu.

De estupros, assaltos, torturas e mortes.



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