Tormento- Alexander Ribeiro

 

 


 

 

Deitado no sofá da sala, Luciano relaxava assistindo a um filme de comédia. O dia tinha sido muito cansativo. Ele tinha se estressado com o péssimo atendimento no banco e depois, de tarde, se aborreceu no trabalho, com a grosseria desnecessária de seu chefe.
Logo que chegou em casa, abriu um serviço de streaming atrás de um filme para
assistir, pois era a forma mais relaxante de se entreter e esquecer os problemas.
Para seu tormento, seu celular vibrou. Era uma mensagem no whatsapp, - “merda!” - ele esbravejou, nervoso. Odiava ser incomodado justamente no seu momento de descanso.
Com má vontade, pegou o celular, suspirou, pausou o filme, e foi verificar... afinal de contas, poderia ser uma mensagem do patrão. Quando abriu o aplicativo, se surpreendeu por que era alguém desconhecido, com um nickname chamado 22angel e a mensagem enviada dizia: O demônio está no seu quarto. Achou muito esquisito. Então perguntou quem está falando ?  e a pessoa não respondeu. Ficou olhando para a tela do celular e riu baixinho, achando que tudo não se tratava de um trote. Mas, de repente, ele escutou um grunhido baixo vindo do quarto, e aquilo gelou sua alma. Com receio, levantou, e olhou pro corredor. No último quarto, uma luz vermelha, parecendo um neon, saia de baixo da porta. Ele foi andando sorrateiramente, com medo, e quando ia se aproximando, ouviu outro grunhido, dessa vez mais animalesco e mais alto. Começou a suas frio e teve que conter o ímpeto de sair correndo dali. Então, se aproximou, abriu a porta com sua mão, que tremia, e viu uma criatura assustadora, de pele cinza e pelos negros no peito, na cabeça e nas pernas. A criatura, que estava de pé do lado direito da cama, olhou pra ele com seus quatro olhos, dispostos na face em dois pares, um acima
do outro, e cada um deles com a íris cintilante e vermelha como o próprio inferno. Um nariz fino e curvo, com a ponta empinada para cima, de onde saiam dois pequenos chifres negros e abaixo, uma boca cheia de dentes amarelos e pontiagudos. Ele sentiu seu corpo gelar e suas pernas tremerem. A criatura, então rosnou, e ao ouvir o rosnado, ele se sentiu como se tivesse sido tocado por toda a maldade do mundo. Seu queixo tremeu e ate uma lágrima escorreu por seu rosto, tamanho era o terror que sentiu. Ele não conseguia se mover, estava paralisado, a mercê do ser diante de si. De repente a criatura saltou em direção a ele com a boca aberta e salivando. Ele sentiu que seu fim tinha chegado.
De repente, ele acordou. Tudo não tinha passado de um sonho. Se levantou, erguendo o dorso, olhou ao redor e estava em uma praia deserta e paradisíaca. De repente, uma mão tocou seu peito e ao olhar para o lado, Lucy, sua namorada, estava lá, deitada, exibindo seu corpo lindo e bronzeado. Ela olhou-o e disse: “calma amor, foi só um pesadelo... relaxa”. Ele respirou fundo, aliviado, e relaxou, deitando na toalha sobre a areia. Ela continuou : “o que você sonhou ... quer me contar ?”Antes que respondesse, a ficha caiu que ele não lembrava de ter ido para aquela praia. A sensação de paz que sua amada lhe deu foi tão boa, que ele nem chegou a pensar nisso antes. Foi então que questionou Lucy a respeito e ela respondeu “amor, vocè está bem ? Você não lembra de quando saímos do hotel e viemos pra cá ? Você estava dirigindo ...” retrucou : “mas que hotel? onde estamos afinal ?” Ela respondeu : “o que você tomou ? Me dá um pouco disso ai que a onda deve ser boa há há há ... você planejou a viagem toda, seu demente, e agora
esqueceu que estamos no Havaí ?” ele se assustou e ficou olhando pra ela sem entender nada. Ele se levantou e começou a caminhar, olhando ao redor tentando entender o que estava acontecendo... quando se deu conta, Lucy estava atrás dele .”amor ... você está bem ? Quer voltar pro hotel e descansar um pouco ?” Ele olhou pra ela sem saber o que responder . Não sabia o que queria, o que sentir, e nem sequer se tudo aquilo era real ou não.

De repente sentiu algo se mexer embaixo da areia. Levantou o pé, assustado, e avistou algo no formato de uma cobra rastejando por baixo da areia. De repente um tentáculo branco se levantou e ficou se mexendo. Assustado, ele tentava entender, em vão, que diabo era aquilo. Lucy gritou vendo o tentáculo, que enrolou a sua perna esquerda e apertou, ate começar a sangrar. Lucy urrava de dor, e ele que estava sem ação até então, correu e puxou o tentáculo da sua perna, e ao puxá-lo, pedaços da carne dela saíram, pois estavam coladas em pequenos espinhos que haviam na parte interna do tentáculo do estranho ser. Várias pequenas feridas ficaram na perna e saiu sangue. Ele então, voltou a puxar, mas outro tentáculo saiu do chão agora, atrás dele e enroscou seu pescoço, e foi apertando-o com cada vez mais força, até ele não ter mais fôlego e sua visão ficar turva.
Foi então que ele acordou, ofegante ... levou as mãos ate o pescoço para ver se a coisa ainda estava lá , e fechou os olhos e respirou aliviado quando notou que não estava.
Após se acalmar, começou a se dar conta de onde se encontrava: deitado no asfalto numa rua cheia de neblina. Sentia muito frio e novamente não sabia como foi parar lá.
Ele levantou meio zonzo e sentindo medo. De repente viu o vulto de alguém se
aproximando através da neblina. Ficou apreensivo. Conforme a pessoa andava por entre a neblina, ele conseguia ver melhor seu rosto. E identificou que era seu pai, falecido há 10 anos. Ele sentiu um arrepio em sua barriga, que foi subindo pela sua espinha. “Estou morto” pensou. Então seu pai saiu da neblina e o encarou com lágrimas nos olhos.
Vestia um terno branco. De repente ele caiu em lágrimas e o pai o abraçou. Um filme de todos os momentos, bons ou ruins, que viveu com seu pai invadiu sua cabeça, e ele chorou compulsivamente, soluçando como uma criança de 4 anos. Depois de alguns segundos abriu o olho e viu que não abraçava mais seu pai, mas sim uma criatura horrenda, com pele de pedra e um rosto do qual saiam vários pequenos espinhos. A criatura então deu um sorriso, mostrando vários dentes pontiagudos negros e tortos em sua boca, e um cheiro pútrido exalava do seu hálito. Então, ela deu uma cabeçada nele, que imediatamente, deixou vários furos em seu rosto, pelos quais sangrava. Luciano se afastou com as duas mãos no rosto e por entre alguns dedos, conseguia ver a criatura, horrorizado. Sentia a dor e o sangue quente escorrer pela pele de suas mãos. O ser então, pegou sua cabeça e começou a batê-la no chão enquanto gargalhava de forma estridente e em tom alto. Tonto e sentindo que estava prestes a morrer, em absoluto estado de desespero, ele acordou.
Homens de jaleco branco se mobilizavam, em um laboratório com as paredes
igualmente brancas e alguns equipamentos tecnológicos enormes. Uma câmera estava apontada pra Luciano e um homem, numa varanda acima com o rosto oculto por sombras, perguntou: “você esta preparado para contar toda a verdade ? Ou quer ter pesadelos novamente durante uma semana ?” atordoado, ele se dá conta do que aconteceu ... os pesadelos que teve foram infringidos a ele por um processo químico, através de alguma droga. Inclusive, um homem ao seu lado injetava uma seringa num saco com liquido para abastecer e entrar em sua corrente sanguínea. Ele tentou se levantar, mas estava preso por cintos á mesa. Então sentiu medo daquelas pessoas.
Sabia que só podiam querer saber sobre o projeto secreto do exército no qual ele
trabalhou como arquivador. Como não queria reviver o inferno que viveu psicologicamente, só lhe restava contar a verdade.

O chefe do projeto escuta as revelações de Luciano, dá um discreto sorriso e depois entra numa sala com outros cientistas. Na sala há uma mesa grande com diversos ugares. Ele se dirige a frente, a maior cadeira. Se senta lá e diz : “senhores, parabéns. A droga eh um sucesso. Conseguimos uma arma que vai superar a tortura física!” todos sorriem ,se entreolham e aplaudem empolgados, menos o sujeito sentado a sua direita, que aplaude, mas não demonstra nenhuma empolgação em seu rosto. Ele continua: “nossa cobaia revelou todos os segredos do Projeto CAMP. Segundo ele, o projeto injetou DNA de felinos em voluntários do exército para provocar mutações, e transformá-los em supersoldados. A parte de infantaria de nossa organização vai recuperar essa fórmula de qualquer jeito, pois podemos vendê-la para a CIA por no mínimo 500 milhões de dólares. Eh um empreendimento sem precedentes.” Todos ficam empolgados e sorrindo, pois sabem que como funcionários daquela organização, se darão bem financeiramente com aquela venda. O doutor ao seu lado, perguntou: “o senhor sabe se de fato, eles conseguiram criar algum supersoldado ?” , o sinistro líder dá um sorriso e diz “qual a diferença que faz ? Nossa infantaria tem membros da policia militar, Civil, da Marinha, da Aeronáutica e até mesmo do exército. Não são alguns supersoldados que vão nos parar, afinal de contas, uma fórmula não tem como lhes conferir imortalidade. E quando criei a P.O.D.E.R, garanti para que tivéssemos os melhores operativos a nossa disposição. Modéstia a parte, sei investir minha fortuna.
Afinal de contas, trabalhei 25 anos no mercado financeiro.” O médico da um sorriso
irônico , tira o óculos e põe na mesa, e diz “O senhor soube planejar bem todos os seus passos, mas se esqueceu de uma coisa ... de que uma hora alguém ia se infiltrar em sua organização.” O líder olha sem entender e pergunta : “O quê ? do que você esta falando?” O homem da outro sorriso e sua pele começa a mudar e pêlos começam a nascer. De repente, ele salta em cima da mesa e dá um rosnado como um tigre. O líder, assustado, recua e se encolhe no cento da sala, apavorado. A transformação continua.
Garras surgem nos dedos e nos pés, o nariz vira um focinho, os dentes ficam
pontiagudos e finos, os olhos ficam rasgados . Ele diz : “Flávio Antonio Berganha.
gênio das finanças, filantropo, cientista... segundo a Time, uma das maiores mentes do século XXI. Segundo a revista Isto é, um dos brasileiros mais geniais de todos os tempos. Tão genial que criou uma organização para contrabandear armas e segredos no mercado negro. Durante 15 anos você conseguiu manter suas operações em segredo, mas há 10 anos nos descobrimos a existência de vocês e desde então estou infiltrado na sua organização. Há 10 anos sonho em cortar sua garganta, mas tive que manter o sangue frio para não estragar meu disfarce, mas agora chegou a hora.” Ele, então, salta da mesa, corta a garganta de Antônio, fazendo três cortes profundos em sua jugular, com três de suas garras. Conforme o sangue vai jorrando, o rosto de Antônio vai ficando branco, até sua vida abandonar completamente o seu corpo.
O felino humanóide dá um sorriso, exibindo seus dentes pontiagudos, e então, sente com o seu faro, que tem mais cientistas atrás dele, na outra extremidade da sala, ele então, se vira em um salto repentino, e vai correndo em direção a eles, tão rapidamente, que mesmo eles correndo em direção a porta não conseguem alcançá-la. Eis que então, ele salta, num bote mortal, e corta duas gargantas antes de tocar o chão, de repente, um dos guardas que foi chamado por um dos cientistas que saiu da sala, abre a porta, e antes que consiga apontar a sua arma para a criatura, leva outro bote, no qual tem seus olhos dilacerados, e cai de joelhos no chão com as mãos ao rosto com sangue escorrendo por entre os dedos, e gritando em agonia. O homem felino, se levanta, após rolar no chão, pega o homem que cegou pelos ombros e atira nos outros guardas que vem em sua direção, derrubando-os. Ele então inicia um massacre, correndo, saltando e matando vários seguranças. Apesar de toda sua agilidade felina, 3 tiros o atingem, dois de raspão e um abaixo da costela. Graças ao experimento que passou, sua tolerância a dor eh grande, então ele continua matando os inimigos. Ao chegar na sacada onde pode ver Luciano preso a cama, ele pega dois corpos e arremessa na direção de dois soldados que estão lá embaixo, então vê reforços chegando a sua esquerda, corta a jugular de um, pega sua metralhadora e atira em um painel de controle, explodindo-o, e o fogo atinge todo o andar de cima. Luciano que assiste a tudo apavorado, acha que o felino morreu, mas eis que ele salta de dentro do fogo com a metralhadora nas mãos ainda pegando fogo. Quando atira com ela, a pólvora da bala se junta ao fogo e cria uma labareda que sai de sua arma, e vai atingindo os inimigos que são incinerados imediatamente. Ele então olha ao redor e não resta mais nenhum inimigo de pé na base. Ao lado da cama de Luciano, tem um homem querendo se levantar. O implacável felino salta sobre ele e morde sua garganta arrancando a carne. O sangue jorra sobre seus olhos e ele rosna num
ato de êxtase animal. Luciano sente medo, mesmo conhecendo o experimento de que o homem foi cobaia e sabendo que nenhuma fera selvagem resultou disso. A criatura se levanta e o fita nos olhos, e ele sente os pêlos da nuca se uriçarem de medo. O ser então, solta os cintos que o prendem com suas garras, o pega no colo, e transforma seu rosto em humano novamente. Luciano o reconhece, na época do projeto, ele costumava conversar com ele sobre futebol e bandas de Jazz, dois interesses que os dois tinham em comum. “Olá, Luciano... quanto tempo hein? Fique tranquilo, que seus pesadelos acabaram.” Ele sabia que aquilo não era verdade, pois a experiência que passou ainda tiraria seu sono por muito tempo. Teria que lidar com aquele trauma durante muitos anos. O soldado, assumiu a forma felina de novo e saltou a toda velocidade segurando o amigo no colo e batendo com o ombro direito na parede, o que arrebentou-a. Eles agora estavam fora do prédio, numa área de floresta, e rapidamente sumiram em meio a mata.

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