A Importação- A.C.A.D.E.A.
- Eu quero um cachorro!
O homem continua com a feição tediosa vestida em terno italiano.
- Paiiii! Eu quero um cachorro!
- Que cachorro? – Ele responde sem pensar exatamente na ideia.
- Quero escolher um bem bonito, ele vai se chamar Baltazar e eu vou brincar com ele todos os dias!
Ele observa a filha miúda e inquieta, balançando seus cachinhos dourados pelo escritório. Ligou o monitor de seu computador e abriu uma página de compra de animais com todos os tipos de raças caninas.
- Venha aqui e escolha.
Ela falava e tagarelava sobre eles, mas ele não ouviu muita coisa. O fardo de cuidar de uma grande empresa o fazia tentar compensa-la com mimos.
- Esse aqui! Esse aqui! – Ela gritou empolgada.
- Tudo bem, vou comprar. Em alguns dias ele será entregue pois vem de muito longe. –
- Tudo bem! – A menina pula do seu lado, empolgada.
1º Dia de transporte de Baltazar.
O cão ficou inquieto dentro da caixa de transporte, não tinha como se mexer muito,
mas logo dormiu já que foi apagado por uma dolorida injeção para a viajem. É uma pena que não mediram a dose para seu tamanho e ele acordou mais cedo do que deveria.
2º Dia de transporte de Baltazar.
Acordou enjoado, acabou vomitando dentro da caixa. Tudo tremia devido a velocidade que o veículo corria, mas ele estava ainda sob o efeito da medicação então não conseguia
reclamar. Depois de algumas horas o carro parou em um lugar muito escuro e todas as vozes foram ficando longe.
Teve vontade de fazer suas necessidades, tentou sair, se mexer, latiu forte, mas ninguém apareceu. Acabou fazendo ali mesmo onde estava, ensopando seu pelo comprido.
3º Dia de transporte de Baltazar.
Ele foi levado para um navio junto de muitos outros animais, todos empilhados em suas caixinhas chorando e com medo. No meio da noite estava muito quente e muitos insetos apareceram para fazer a festa com todos aqueles fezes.
Um homem apareceu com um pedaço de madeira batendo em cada caixa até todos ficarem quietos, em uma dessas ameaças acertou a patinha de Baltazar que estava na beira da grade frontal lhe arrancando uma unha e fazendo sangrar o pobre cãozinho. Ele se encolheu e chorou baixinho até adormecer.
4º Dia de transporte de Baltazar.
Todos os animais foram acordados já no porto, com jatos d’agua em seus focinhos. Os animais gritaram, mas o homem não pareceu se importar, ele só precisava limpar toda aquela sujeira rápido para descarregar. Entrou água em seus olhos e focinhos.
Os descarregadores do navio fumavam muito, e brincavam soprando fumaça na cara dos bichos para dar risada o que fez com que Baltazar ficasse com um olho vermelho e ardendo, mas nenhuma dor superava a de sua patinha.
Depois de irem para outro carro começou o frio, com muito pelo e molhado Baltazar passou a tremer e gemer. Tentou latir, mas ninguém parecia nem ouvir.
No final do dia ele foi separado dos demais animais e foi levado à um aeroporto onde lhe acomodaram junto da carga. Com frio, dor e muita fome ele chorou e então lhe deram outra injeção para dormir.
5º Dia, a chegada de Baltazar.
Quando Baltazar acordou já estava sujo de seus excrementos novamente e tentou respirar fundo para não vomitar, teria conseguido se não estivesse com as narinas trancadas.
Tremendo de frio e agora febre, um senhor de uniforme o pegou no setor de cargas, colocou dentro de um carro quentinho e começou a andar. Apesar de ele sequer tê-lo olhado nos olhos ele pensou que agora sim estaria seguro.
Chegaram a uma casa enorme, onde um canil com água e comida já estava preparado para ele. Não conseguia comer ali naquele momento, mas ficou feliz por estar ali.
Logo veio a pequena Laura correndo com seu vestido florido esvoaçando pelo quintal, logo atrás seu pai.
Eles se aproximaram para analisar o cão. Estava com o pelo baixo, manchado e sem brilho, todo sujo da barriga até o rabo. Sua pata estava com sangue seco e uma ferida grande.
Seus olhos ainda semicerrados por conta da medicação, e o esquerdo ainda vermelho. Com bafo de vomito, focinho quente e tremendo por conta da febre que estava.
Ele abanou o rabo de felicidade ao ver a empolgação que a menina havia chegado, mas depois ele fechou o semblante, se afastou dele com feição de nojo e encarou o pai.
- Pai, esse cachorro é horrível! Eu não quero isso!
Ela virou as costas e saiu. Seu pai suspirou, como se quisesse manter o controle.
- Simão - Ele solicitou o mordomo. – Livre-se do cão. -
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