Crenças Verminosas- Bella Donna

 


 Deixa eu te dizer:

há algo errado, muito errado. Teus vermes emocionais escorrem pra dentro de mim, fazem morada na carne, mastigam meus pensamentos como se fosse festa.

E você, tão à vontade em me machucar, se ajeita na minha dor como quem se estica num sofá velho, largado.

Há presságios cravados em mim como seringas enferrujadas, inoculando doenças em pontos de sensibilidade que nem eu sabia que existiam.

Fugi por tanto tempo das histórias malditas sobre a minha sanidade… mas você me puxa de volta a elas como quem arrasta um corpo pelo chão.

Às vezes penso em algo visceral: medidor o pé no acelerador e sumir na estrada, sem mapa nem freio, como se a velocidade fosse vomitar pra fora esse parasita que rói meu cérebro, só pra ter alguns segundos de liberdade.

O dia a dia me sufoca com sorrisos fingidos; cada vez que desempenho essa persona domesticada, alimento o monstro faminto que habita minhas entranhas, e ele se sacia com os vermes que você derrama sobre mim. 

Sinto que partes de mim apodreceram e não voltarão mais.

E nesse espelho sujo, talvez o fragmento de loucura que resta seja a única coisa autêntica que me sobra.

Jogo meus remédios fora, eu sou a minha má confiança.

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