O Dêmonio da Tourette- Matheus Freitas

 



 Pietro têm cabelos pretos e aproximadamente 1 metro e 70 centímetros. Nasceu e viveu  boa parte da vida em Porto Alegre. Apesar da vocação, nunca pensei em ser detetive.

Usou a paixão por investigação para tentar a carreira jornalística.
Contudo, desistiu da graduação ao perceber que o mundo jornalístico não era tão glamoroso quanto pensei. Pietro tinha esperança de entrar em uma redação recheada de  fumantes e trabalhar, única e exclusivamente, em uma grande reportagem investigativa.
Seus únicos esforços no decorrer dos semestres foram empreendimentos em agências de  comunicação. Trabalhava loucamente para cumprir as demandas diárias e atender os  diversos clientes. O ambiente era limpo e sem fumantes.
Em relação ao clima das agências, ele gostava. Apesar de sonhar com o glamour das  redações recheadas de fumantes, Pietro, nem de longe, representou um jornalista  vintage da década áurea do jornalismo. Ele não fuma e nem bebe cervejas e  refrigerantes. Às vezes curtia um vinho, mas sem exageros. Controlava as doses de café.
“Três, no máximo, por dia”, dizia ele.
Pietro bebe bastante água, se alimenta de forma saudável e faz exercícios quase que  diariamente. Na verdade, combina mais com o ambiente limpo das agências.
Porém, a exigência diária de que o trabalho seja produtivo nunca é esmagador. O instinto investigativo  e a vontade de trabalhar em uma história por vez, sempre prevaleceu. Por esta razão,  quando descobriu a agência Lore Detetives designados de detetives particulares,  decidiu se candidatar.
Depois de alguns testes, foi aceito. Na agência, trabalhou ao lado de seu chefe,  Lorenzo, e outro investigador. Abandonou a faculdade para se dedicar a uma carreira de  detetive.
Por alguns meses, investiguei apenas pequenos casos. Até receber uma grande  oportunidade. Em 2017, foi chamado para investigar um suposto caso de corrupção no interior do Estado.
A investigação foi tão bem-sucedida que ao retornar se tornou o detetive mais  requisitado da agência (apesar de ser somente dois) e passou a receber bons caches. Não  no entanto, os casos, na sua grande maioria, eram traições.
No decorrer de 2018, Pietro se desligou de Lore Detetives e passou a trabalhar por conta  própria. Continuou tendo uma boa clientela. Em meados de janeiro de 2019, o detetive  se deu ao luxo de tirar umas férias. Ia à praia. Apesar de não gostar muito do verão,  passaria alguns dias no litoral gaúcho com amigos que há tempos não via. Contudo, interrompeu todo o seu planejamento ao se deparar com um cadáver de travesti no lixo.
Aquela era para ser apenas mais uma noite serena. Andava por ruas tranquilas de Porto  Alegre após resolver outro caso de traição quando se deparou com uma entrega  de suspeitas de um grupo de pessoas. Escondeu-se. Depois, foi até o lixo e encontrei o corpo nu da travesti.
Ela estava sem a cabeça (até hoje não encontrada) e havia sinais em seu corpo. Pedro  deduziu que ela foi usada em algum ritual. Interrompeu as férias e passei a investigar o caso.
Pietro encontrou os culpados pelo assassinato e as pessoas responsáveis ​​foram presas.
Contudo, não houve alarme sobre o ocorrido, a notícia nem sequer foi tão divulgada nos  meios de comunicação. Alguns policiais estavam envolvidos. Mas o detetive não se importava com manchetes e sim em resolver os casos. Infelizmente, aquilo estava longe de ser resolvido.
Em sua investigação, o detetive descobriu, também, um nome: Zequeu. Padre que  atuou no norte do País e que teria orientado aqueles ensinamentos na qual envolveram com o assassinato de travestis.
Após investigá-lo de todas as formas possíveis, consegui encontrar uma pista de onde  o pai poderia estar: Pará.
O Jornalista
Enquanto caminha pelas ruas de Belém, Pietro carrega em suas mãos um pedaço de  papel. Nele contém o endereço do local aonde vai encontrar “O Jornalista”. A única
pessoa que o detetive descobriu que já disse algo sobre Zequeu.
O autoproclamado Jornalista escreveu o texto sobre o Padre em um pequeno blog,
porém, não divulgou seu nome. Para complicar, o portal já está desativado, por isso, Pietro teve dificuldades em encontrar os donos.
Os obstáculos não pararam. O tal “Jornalista” não fazia parte da equipe que comandava o blog. Ele acabou de enviar o artigo sobre o Padre Zequeu. Contudo, não fim do texto, havia um e-mail. E os ventos sopraram a favor de Pietro: ele ainda respondeu por aquele endereço.
O detetive e o jornalista não trocaram muitas informações via correio eletrônico, mas decidiram encontrá-lo no Pará.
Depois de caminhar, Pietro localiza o banco da praça na qual deve se encontrar com ele. Senta e começa a mexer no celular. Completamente distraído, não percebe a presença de uma menina sentando-se ao seu lado.
– Pedi para ser discreto – disse a garota.
Pietro se asstou. Olhou para ela com certa cara de espanto e tentei dizer alguma
coisa, mas a menina adiantou-se:
– Está andando no calor de Belém com uma calça e camiseta preta, enquanto a maioria que caminha por aqui está com roupas leves. Além disso, você está procurando no papel um dos lugares mais comuns daqui. O restante das pessoas, neste momento, está realizando rotinas do dia a dia, desta forma, não é necessário procurar por pedidos em folhas rasgadas. Também tá com o rosto vermelho por causa do sol. É bem provável que tenha uma vida noturna mais ativa por causa do trabalho muitas vezes realizado à noite e por isso se queima com facilidade. Com certeza é o Pietro.
– Ah, e você é…
– O Jornalista.
– Pensei que fosse…
– Homem?
– Sim. É que você assinou como O Jornalista.
– É, faço isso mesmo, é uma espécie de proteção. Mas eu sou mulher. Enfim, o que você sabe sobre Zequeu e como descobriu sobre ele?
– Mas eu já falei…
– Então fale de novo.
- OK. Descobri por acaso enquanto investigava um grupo que tinha travestis assassinadas e gays em Porto Alegre. Mas eu sei basicamente o seu nome. Nada mais.
– A história é a mesma que disse no e-mail, então não deve estar mentindo e nem é um espião de Zequeu. Bom, eu me chamo Elba e descobri sobre ele há alguns anos…
“A família da minha amiga foi vítima dele. A irmã mais nova dela estava mal. Como
são religiosos trevosos, comeceii a busca para encontrar uma salvação milagrosa. De tanto procurar, acharam Zequeu. Foram até o interior encontrar o pai. Uma menina passou por um exorcismo e terminou foi curada.”
“A família foi convencida a ir viver na comunidade onde a menina foi salva.
um tempo, fui visitá-la. Lá, descobri que basicamente na comunidade tinham
sofrido uma espécie de lavagem cerebral. Idolatravam o pai como se todos fossem o próprio Deus. Passei a investigar algumas coisas, interroguei alguns moradores mais antigos e tudo mais.”
"Há anos, Zequeu perambula entre alguns estados do Norte e Nordeste realizando
pequenos milagres. Em troca, vive nestes locais. Recebe água, comida, casa etc.
Algumas famílias também dão dinheiro a ele."
"Até aí, parecia apenas mais um caso de falso milagreiro. Porém, um dos moradores deixou escapar que Zequeu nunca falha. Se os seus rituais e exorcismos não dão certo, ele dá 'um fim na pessoa' para o demônio não se alastrar pelo lugar." "Tentei investigar mais, mas minhas perguntas aos moradores levantaram algumas suspeitas e não passaram despercebidas pelo Padre. Ele tinha olhos e ouvidos em todos os lugares." – Acabei sendo meio que expulsar. Depois, Zequeu foi embora e o vilarejo se sentiu desamparado sem o seu protetor. Minha amiga e sua família me culpam por isso. – Então você não tem nada também. Apenas uma suspeita de que ele possa matar alguém – disse Pietro.
 
– Era apenas uma suspeita até você aparecer e eu confirmar essa hipótese. Veja ele tem seguidores, isso significa que Zequeu passou os seus ensinamentos. Só vamos, de fato, descobrir, se o encontrarmos, o que é muito difícil…
– Tu disse que sabia onde ele estava…
– Sim. Foi difícil achar, mas encontrei. Mudei o foco. Ao invés de procurar por ele,
passe a frequentar compras e ir atrás de pessoas em busca de milagres. Tive acesso a alguns grupos de mensagens no celular e entrei em vários, com diferentes números e nomes.
"Em um deles, havia uma mãe pedindo ajuda pelo filho, disposta a qualquer coisa.
Segundo ela, uma criança sofre com uma 'doença interminável' desde que nasceu. Alguém do grupo disse que conheceu um padre exorcista capaz de curar todos os problemas. UM conversa entre as duas aconteceram no privado."
"Sabia que era ele. Também chamei a moça e inventei um problema qualquer. Depois de muita insistência, ela me disse quando o pai iria visitar uma criança. Então, eu sei onde ele vai estar."
Zequeu
Após uma viagem cansativa até o vilarejo indicada pelo jornalista, Elba e Pietro, enfim, chegam ao local. De cara não foram bem recepcionados. Por ser um lugar pequeno, com poucos moradores, todos se conhecem. E não gosto de ter pessoas estranhas circulando em seu lar.
Ao perceber pouca receptividade, Pietro e Elba decidem não falar com ninguém,
apenas vão até o lugar em que irá pernoitar (segundas informações do jornalista, há uma pequena pousada no vilarejo para receber turistas – não muitos, porque o lugar não está em uma rota turística – que aparece para conhecer trilhas, riachos e cascatas nas redondezas). Apesar da observação dos olhares dos moradores, eles conseguem passar a impressão de que são apenas turistas.
– Dois quartos, por favor – pede Pietro.
– Só temos dois quartos no estabelecimento e um já foi privado – responde o atendente da pousada. – Tudo bem, ficaremos em apenas um quarto – diz Elba. Ao entrar no quarto, constituído apenas por uma cama de casal, é possível enxergar, através da janela do cômodo, a distribuição dos moradores do vilarejo. Eles circulam pelos arredores da pousada com o intuito de “observar” os turistas. Sentados na cama, a dupla começa a deduzir algumas coisas. – Ele já está aqui – diz Elba. – Sim. E não está no hotel. Já deve estar realizando o exorcismo ou, no mínimo, está junto ao menino e sua família. precisamos descobrir onde. – Como? Eles não param de nos observar, como se fosse uma ordem…
 
–Talvez seja. Dois “turistas” chegam coincidentemente logo após o padre estar aqui para realizar o exorcismo. Lógico que desconfio de alguma coisa. Nossa ideia de passar desesperado não deu certo. Já fomos notados.
–É, preços razoáveis. E agora, vamos nos disfarçar para andar entre eles?
– Não! Saberão que somos nós. Não sei que filme você viu sobre detetives, mas uma grande parte do trabalho é apenas esperar.
– Esperar? Vamos esperar o quê?
– Um exorcismo pode durar dias. Não podemos deduzir ao certo se a sessão do padre já começou, mas ela ainda não terminou. Levando em consideração o método de Zequeu, se o exorcismo já tinha chegado ao fim, a população estaria em festa com a salvação ou em luto com a morte da criança.
"Tudo está dentro da normalidade. Desta forma, ou aconteceu outra sessão de
exorcismo ou, na pior das hipóteses, o menino já está morto, porém, sua morte ainda não foi anunciada e por esta razão não estamos presenciando o luto nas pessoas e um possível enterro."
“De qualquer forma, em qualquer um destes dois casos, quando acontecer, haverá uma aglomeração de pessoas.”
"O povo daqui tem crenças religiosas muito fortes e também se impressiona fácil.
Não fosse por isso, ao esperarmos, pediriam para impedirmos Zequeu. Todos, ou uma grande maioria, sabem o que está acontecendo aqui."
"No momento em que iniciamos uma aglomeração ou observamos uma movimentação estranha, é porque algo está acontecendo. Ou uma nova sessão de exorcismo começou ou está começando os preparativos para o velório." "Por agora, convidamos apenas aguardar. Se sairmos perguntas sobre Zequeu e o exorcismo, irracional desconfiar de nós e dos barcos de nossa presença chegarão aos ouvidos do pai que, certamente, fugirá.” Elba respira fundo, mas concorda. A dupla aguarda. De tanto esperar, ambos dormem. Porém, são despertados por um grito: – Começou! – diz Elba ao se levantar no susto. – Vamos! Pietro e Elba saem do quarto. A recepção da pousada está vazia. Ao sairrem do local, o vilarejo também parece estar sem ninguém. Enquanto caminham, ouvem mais gritos. A dupla corre em a direção gritos desesperados e não demoraram a encontrar um aglomerado em torno de uma casa. Há outros moradores lá dentro. Os espectadores fazem lado de fora não chegam a tempo de pegar um lugar privilegiado dentro da residência. – Vamos impedir isso… – Não! – É a nossa chance, Pietro! – Você é faixa preta em alguma arte marcial? – O que isso tem a ver?
 
– Há uma multidão ali! Quando percebemos que estamos aqui e sabemos de algo, eles não nos expulsarão! Isso só não vai acontecer se você os impedir. Consegue? Porque eu sei que não consigo.
– E o que vamos fazer? Sentar e observar enquanto uma criança corre o risco de vida?
– Sim! Esse é o nosso trabalho, observe! Primeiro, o objetivo é descobrir onde é o
local. Já conversamos isso. Agora, vamos nos esconder e esperar o término da sessão. Depois, quando tudo estiver calmo, vamos invadir e tentar conversar com a criança.
– Mas isso não é certo…
– Não temos muito tempo para discutir. Ou nos escondemos ou teremos que dar por encerrada a nossa investigação.
Em contragosto, Elba se esconde junto com Pietro. Juntos, aguardem. A espera é
agoniante. Além de observar as pessoas em frente a casa comemorando a cada oração e versículos da bíblia ditos pelo padre, os gritos do menino são incessantes.
Depois de muito esperar, os gritos do garoto diminuíram. Há uma calmaria no ambiente e uma transferência da população. Ao que tudo indica, a sessão acabou e os moradores estão indo embora. – Infelizmente, acho que o demônio é forte demais… – Essa já é a quarta das cinco sessões. Se esse padre milagreiro não consegue, ninguém mais consegue. – Vamos perder o garoto… O abatimento é geral na população. A batalha entre Padre e Diabo não tem sido boa ao Sacerdote. –Ó padre vai matá-lo! – diz Elba. – Calma, ainda falta uma sessão – argumento Pietro – E vamos agir agora. A gente vai salvar o garoto. O “agora” demora mais alguns minutos. A dupla espera que o vilarejo fique em silêncio. Quando os passos e as conversas da população chegam ao fim, Pietro e Elba saem de onde estão e até a residência do menino. Ao se aproximar pelos fundos, notam a entrega de duas pessoas. Apenas a mãe e o garoto vivem ali. Aguardem mais alguns minutos. Ela se retira para ir ao banheiro. Pietro e FULANA ouvem o barulho do chuveiro sendo unidos, retornam para residência e decidem adentrar a casa. Com a porta aberta, por conta do calor e do índice zero de criminalidade, Pietro e Elba caminham lentamente até o quarto onde está o menino. A casa pequena e os filhos contínuos, como se fossem tíquetes, facilitam a procura da dupla. Deitado na cama, o menino tem marcas vermelhas no rosto, baixa que levou tapas. O garoto também está sem camiseta. Em seu corpo há marcas de queimadura e machucados. Ao notar a presença de Pietro e Elba, os tíquetes ficam mais altos e rápidos. – Você está bem? Viemos ajudá-lo – diz Pietro.Ao tentar se aproximar, é contido por Elba.
– Não chegue perto…
– Você acha que ele realmente está possuído? Achei que fosse mais inteligente que isso…
– Não se trata de inteligência e sim de confiança. E não, não acho que ele esteja possuído, apenas nervoso por estarmos aqui.

Pietro retornou e Elba contínua: – – Nós sabemos que não está possuído. Não estamos com o padre Zequeu. Pelo contrário, queremos detê-lo. Ele tem torturado muitas pessoas. Meu nome é Elba. E o seu? – Luzio. O menino começa a se rir. Os títulos diminuem e são substituídos por lágrimas: – Água quente! Ele joga água quente em mim e diz que é água benta – diz o garoto. – Filho da puta! – retruca Pietro. – Eu não sei o que eu tenho, me ajude… – Síndrome de Tourette – fala Elba. – Sim, já ouvi falar – complementou Pietro – Uma síndrome não tão comum. Talvez, o primeiro caso da família e o do vilarejo. Com a crença e a falta de informação não foi difícil deduzir que se trata de uma possessão demoníaca. Este pai se aproveita da falta de orientação das pessoas… – Pietro, está na hora de agir mais e falar menos – interrompeu Elba – Vem, vamos levá- lo embora… – Como? – pergunta Pietro – Temos que esperar até o dia amanhecer para podermos sair daqui… – Vamos tirá-lo daqui e nos esconder ou sei lá. Depois demos um jeito de ir embora… Enquanto estudam como vão sair e salvar a vida do menino, eles começam a ouvir passos e vozes. O padre está retornando, porém, não vem sozinho. Munidos de tochas nas mãos, a população acompanha Zequeu em direção a casa em que Pietro e Elba estão. Ao perceberem a movimentação, os dois também se dão conta de que o chuveiro está desligado. – Não se preocupe, nós vamos salvá-lo! – diz Elba ao menino. Os três fogem por uma janela nos fundos da casa. Porém, ficam encurralados, já que a população está em frente à residência e ocupa boa parte da pequena rua. Não demora muito para a mãe do menino sair do banheiro e notar a entrega em frente a sua moradia. – O demônio é mais forte do que eu pensei, Prudência – indagou o pai a ela – Infelizmente, não podemos aguardar a quinta sessão. Ele é tão poderoso que trouxe outros demônios para cá. “Mais cedo, um homem e uma mulher desembarcaram no vilarejo. Passaram-se por simples turistas, mas ficaram o dia dentro da pousada e agora sumiram. Que tipo de turista sai à noite com um demônio a solta ?
 
 – Não! Ele precisa de mais uma chance. Eu sei que na próxima o senhor vai conseguir!
– apela Prudência.
– Infelizmente, o demônio se alastrou rápido demais!
Zequeu saca uma arma e atira em Prudência. A população se espanta, mas o pai os tranquiliza:
– Não se assustem, infelizmente ela também está com o demônio. Nenhuma mãe quer ver o filho sofrer. No momento em que recusaram a ajuda divina, independente de como para esse amparo, é porque já estão contaminados pelo Diabo.
A população concorda. O padre caminha até um dos moradores, pega a tocha que ele tem em mãos e retorna até onde Prudência está caída. Mesmo com um fermento sem abdômen, ela continua viva.
Zequeu se agacha ao lado de Prudência e encosta a tocha em seu rosto. Ó padre a queima até não ouvir mais os gritos e nem sentir sua respiração e os corações cardíacos
. Ele fica em pé e ordenado:
– Queimem a casa!
– Ele é um impostor! Não existe nenhum demônio! – diz Pietro aparecendo de repente – O menino tem uma doença e precisa de tratamento e não de exorcismo!
– É ele! Ele está junto com o demônio! Queimem-não!
A população fica de costas para o Padre e se prepara para correr em direção a Pietro.
Contudo, um som metálico rompe o barulho da balbúrdia do povo enraivecido. Ao
olhar para trás todos ficam em silêncio.
Os habitantes apenas observam. A quietude só não é total por causa dos tíquetes
nervosos de Luzio agachados ao lado do corpo da mãe e dos golpes que Elba da na Cabeça de Zequeu com uma pá.
A menina bate até a cabeça se solta completamente do tronco. Ao terminar o serviço, ainda ofegante, ela pega a arma do pai e aponta à população:
– O que ele disse é verdade, nós somos os outros demônios – diz Elba – Queimem a casa e depois vamos embora. Nós três!
– Nós também temos armas – grite um dos moradores.
– Mas também são demoníacos? – retruca a menina – Suas armas não funcionam em nós.
Querem tentar? Se não queimarem a casa, continuemos aqui.
– Não podemos confiar em demônios – diz outro morador. Elba não argumenta, apenas atira na perna de um morador. – Na próxima, posso atirar para matar. Agora queimem à casa! Aos poucos, a população joga as tochas na casa e o casebre começa a incendiar. Ao ver À medida que as chamas ganham força, os moradores do vilarejo começam a se dissipar. Pietro se aproxima de Elba e de Luzio. O detetive se agacha e joga a cabeça do padre em meio às chamas. Mas algo chama a atenção dele. Em um dos bolsos da calça de Zequeu tem um pequeno caderno. Ele pega o manuscrito.
 
Ao pegar e guardar-lo, ele se levanta e começa a falar com Elba:
– Você matou uma pessoa? E que porra foi essa de que somos demônios?
– Fiz isso para nos salvar e te defender.
– Eu sou defensor?
– Sim. Ou por acaso você é faixa preta em alguma arte marcial? Só assim para
conseguir dissuadir os moradores.
– Bom discurso…
– Não pretendi matá-lo, mas a raiva tomou conta e quando Pensei em tudo o mal que ele já fez, não aguentei…
– Tudo bem. Acho que faria a mesma coisa.
– Vamos? – diz Elba ao garoto.
Pietro, Elba e Luzio vão embora. O Demônio da Tourette deixa o vilarejo.
Dias Depois
Alguns dias se passam. Pietro continua no Pará, desta vez, porém, está “turistando”.
Aproveitando as férias interrompidas ainda no início do ano para se dedicar ao caso do padre Zequeu.
Nesse meio tempo, ao lado de Elba, eles entregaram Luzio a um orfanato. Lá, o menino
receberá o amparo necessário, com ajuda psicológica e psiquiátrica para tratar a
Síndrome de Tourette.
Contudo, mesmo em suas férias, Pietro não abandona 100% o trabalho. Enquanto
desfruta, junto com Elba, que se tornou seu guia, de pontos turísticos de Belém, o
detetive também investiga o caderno que encontrou junto com Zequeu.
Até então descobri que Zequeu nunca foi pai. Pietro não sabe seus dados de
Nasceu, porém, em 1967, foi enviado para um hospital psiquiátrico, mas fugiu em
meados da década de 1970. Segundo a ficha, anexada com um clipe enferrujado logo nas primeiras páginas do caderno, o motivo de ter sido internado pela vida foi porque “ele matava animais e tentava trazê-los de volta a vida”. Depois de fugir do manicômio, passou a autoproclamar-se padre e realizar milagres. "Tinha desistiu de meus dons quando os animais não retornaram à vida. Mas trancafiado naquele lugar terrível, recebi um chamado especial de que minha missão deveria continuar. Muitas pessoas precisam dos meus poderes." Assim Zequeu escreveu em seu caderno logo após fugir. Contudo, Pietro não conseguiu, ainda, deduzir se Zequeu de fato tinha algum problema mental e acreditava em suas proezas ou se apenas fingia no que fazia e praticava os exorcismos e atos religiosos duvidosos com o intuitivo de machucar pessoas. O certo é que ele era inteligente. Por onde foi amigo e criou uma rede de proteção para si próprio. Além de encorajar outras pessoas a seguirem seus caminhos. Sem caderno também constam os “milagres” impostos por ele e nome de pessoas que passaram a acreditar em seus ensinamentos.
 Um dos últimos nomes anotados no caderno é de Adamastor Júnior. Um jovem menino do Amapá que está internado em um hospital psiquiátrico após ter matado uma menina



 

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