Incubus- Bella Donna



Um gemido corta o ar antes do toque.

A noite entra pelas frestas sem som, espessa, morna, carregada de algo que não se diz.

O quarto respira junto comigo.

Teu corpo também.


Há calor antes mesmo que eu me aproxime.

Um calor úmido, ansioso, que se acumula entre nós.

Teus olhos tentam resistir, mas tua pele já me chamou faz tempo.


O silêncio entre nós pesa como véu.

Tudo que acontece agora é lento.

Meus dedos percorrem o ar até encontrarem tua pele.

Ela treme. Tu também.


Me movo como sombra que te observa dormir e acordar.

Me instalo sobre ti sem esforço.

Teus lábios não falam, mas tua carne implora.

É fácil te ler quando estás assim, com os olhos semicerrados e a respiração errada.


Tua resistência tem gosto.

Tua entrega, mais ainda.

Nada em ti é inocente.

Teus medos se entrelaçam aos meus, e por isso nos tocamos desse jeito.

Forte. Calmo. Voraz.

A escuridão nos protege.
Aqui, não há certo. Não há pureza.
Apenas o desejo que cresce como febre e o tempo que se dobra sob o peso da nossa vontade.

Minha pele pressiona a tua até que os contornos se confundam.
Tua boca se abre por reflexo.
Minhas mãos descobrem o que tua alma tenta esconder.
Não fujo do que vejo. Quero tudo.

A lua não observa.
Ela testemunha.
Reflete as partes de nós que negamos à luz.
Na penumbra, somos inteiros.
Na penumbra, somos reais.

Tu te desfaz em cima de mim e ainda assim permaneces.
Como se essa fosse tua forma mais precisa de existir.
Como se tudo antes disso fosse ensaio.

A vertigem não está na queda.
Está no momento em que tu decides não fugir.
Quando teu corpo me prende. 

Esta é a história que recomeça toda vez que a noite cai.
Feita de desejo obsessivo, respiração quente e olhos que enxergam no escuro.
Nada resta além da marca do outro.
Na pele.
Na alma.
No vazio que vem depois do gozo

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